quarta-feira, 27 de março de 2013

Último cigarro


Acho que este será o último cigarro do dia. Eles acabaram e não consegui sair para comprar mais. Meu ninho é confortável e dentro dele minha alma está igualmente envolvida por abraços ternos. O tempo passa. Agora o relógio na minha parede mostra que não sou imune a ele. O tempo está passando, e eu o observo. Apenas observo. Choro pelo passado e temo o futuro, no presento só ansiedade. Jovens ansiosos e suas insatisfações constantes. Tudo está bem, e como isso me assusta. Amo e sou amada. Escrevo e  escrevo mais um pouco, depois escrevo mais. Tento mas ainda não sou nada. Por enquanto.
É o meu último cigarro, e o tempo, imponente, o queima. O tempo o queima. Dizem que o seu quarto, sua organização, mostra como está a alma. A minha é uma bagunça. Escrevo errado e rabisco, corrijo, volto, desfaço, enlouqueço. Não sei se quero vender-me. Se quero vender tudo que tenho. Esses são devaneios que poucos entendem, eu não entendo bem. O cigarro está acabando, são meus últimos tragos e o tempo continua correndo apressado.
Vou. Vou deitar-me neste devaneio e dormir sobre estas dúvidas. Mas sei que quando acordar dúvidas lá. Até, quando menos esperar, elas voltarem a me assombrar. É sempre assim. Posso estar lendo, escrevendo, andando sozinha, feliz ou triste. Uma hora elas vêm, impiedosas.  O tempo, como a dúvida, é barulhento e queimou meu último cigarro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário