terça-feira, 23 de agosto de 2011

Noite


A noite vem e me tortura
Com teu silencio impiedoso
Fico a remoer amarguras
Daquele tempo tempestuoso.

Meu amante não está ao lado meu
E meu corpo clama pelo teu
O barulho de rua me deixa a imaginar
O que, hoje, estaria fazendo lá.

Aqui estou novamente a lamentar
Esta falta de estar
Na conhecida perdição

Porém hoje tenho um amor inexorável
Tenho um verdadeiro coração.
Hoje a vida já é palpável.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Hemorragia por escrito


Minha escrita é a hemorragia
Inescrupulosa e indolente
É a flor da pele
Que nasce na lama
E desabrocha timidamente
Cresce de repente
E morre com um ponto.
Cada palavra como uma vida
À lágrima derramada,  ferida curada
Ferida causada e riso contido
Fingindo não ser dor.
Isto é quem sou:
Palavras em linhas que,
Com intenção ou não,
Mostram a essência do coração 

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Morte do Barroco


Hoje não quero rimar.
Jogo a estética para longe!
Agora o que me incomoda
É uma certa inabilidade
De dela renunciar.

Olhe, caí na minha armadilha.
Cadê o ímpeto que me acompanhou?
A grande dádiva de não racionalizar
Morre hoje na vontade de rimar.

Não existe identidade
Além da que já tenho.
Machuca reciclar e reescrever.
Vou cultivando tremendo desdenho.

Agora que posso fazer?
Sou pequena, sou mera, sou nada.
Sou tudo. Posso ser o que quiseres.
Mas no fundo sou apenas poeta,
Que em rimar não encontra prazeres.

Mariana Bernardes

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Beleza da Dor

Vivo entre paredes amedrontado,
Em um palco montado.
Mentes conectadas pelas diferenças.
Interessante é morrer enquanto se vive,
Vagar sem rumo no vale dos perdidos.
Corpos inertes com mentes perturbadas,
Sentindo e ansiando não sentir,
Abrindo os olhos e evitando enxergar.
Tortura àqueles que ainda andam!
Desprezo àqueles que ainda sentem!
Vivem e morrem sem saber
A dor e a beleza de sofrer.

Mariana Bernardes

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Medo


Andava pela rua e parei. Onde me encontrava? Eu sabia geograficamente e fisicamente. Mas onde, em que lugar em mim , me encontrava? Afinal para onde estava indo? Medo. Este era a minha companhia. Sempre o senti, mas, por muitas vezes o mascarei e me fiz destemida. Tinha medo. Sentia medo do medo. Assim, ignorando-o passei a temê-lo. O trouxe para perto.
Cair na realidade dói. E este, digo-lhe com veemência, foi e continua sendo meu grande medo. Achei que o único sentimento comum à todos os homens era a dúvida, mas no meu contínuo questionamento achei outro companheiro inseparável dos que ainda vivem.  Quem se foi não se questiona e nem mesmo teme, mas já os que estão... Estes podem não querer mas o fazem involuntariamente. Sim, estes são companheiros inseparáveis. Começo a duvidar do medo e temer a dúvida. Medo de temer. Medo de entregar-se. Medo de morrer. Medo de viver. Medo de perder e até o medo de ganhar, vem a pergunta “o que fazer com o premio?”. Dúvida. Medo. Indivíduos únicos e fascinantes, até assustadores, que no fim formam uma unidade. Deveríamos temê-los? 

Desacredito na contradição

Desacreditar no amor
E prosas sobre este fazer
É tão vão que passa a ser
Uma imensa contradição.
Ama a morte quem quer morrer
Ama o amor quem almeja renascer

Vejo escrito que poucas vezes profere
O dito amor por ser fútil.
Que o amor em vida é uma mentira. Inútil.
Platonicamente, o carnal seria imperfeito
Mas no mundo das idéias sim,
Lá Ele seria devidamente aceito.

Verso que dizem não falar de amor
Já estão a vos falar
Que amar sem amor
Resulta, de fato, em dor.

Mariana Bernardes